domingo, 17 de maio de 2015

Escola do Cristianismo (O Convite - Parte 1)


O Convite

VINDE A MIM TODOS OS QUE ESTÃO ATRIBULADOS E SOBRECARREGADOS E EU OS ALIVIAREI




Oh maravilha! Maravilhoso que aquele que traz o auxilio seja precisamente quem diga: venha. Que amor! já é amoroso - quando se pode ajudar - ajudar ao que roga o auxílio, quanto mais oferecer auxílio. E oferece-lo a todos! Sim, e cabalmente a todos os que não podem ser ajudados novamente. Oferecê-lo não, proclamá-lo aos quatro ventos, como se o auxiliador mesmo necessitasse de ajuda, como se ele que deseja e pode ajudar a todos, fosse ele mesmo em certo sentido um necessitado, que sente esta necessidade, e no entanto, necessita ajudar, necessita dos que sofrem para ajudá-lo. 

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Vem! Desde sempre não há nada de admirável  quando alguém que está em perigo, talvez, em eminente  e momentâneo perigo clama: vem! Ou tampouco nada há de maravilhoso em que um curandeiro grite: "vem! Eu curo todas as enfermidades" - Ah! pois no caso do curandeiro é muito certo o ditado de que é o médico que necessita dos enfermos:" Venham todos os que podem pagar caro pela cura" - ou em todo o caso aos tratamentos -; aqui há tratamento para quem queira - que pode pagá-lo - Vem aqui, vém!". 

Mas outra coisa acontece quando ao que pode ajudar tem de ser buscado; e quando se lhe tem encontrado é talvez razoável que se estabeleça diálogo com ele, e quando se tem chegado a dizer-lhe palavras, rogando-lhe talvez por muito tempo; e quando se lhe tem rogado por muito tempo também coloca em movimento com muito cuidado, como o que se faz suplicando; e as vezes, precisamente não deseja cobrar nada ou renuncia o salário, é apenas uma expressão do elogio ilimitado que se instala. Pelo contrário, aquele que se entregou, se entrega também agora, e é o mesmo que busca aos que possuem necessidade de auxílio, é o mesmo que dá voltas ao redor clamando quase de joelhos, dizendo: "vem cá!". Ele, o único que pode ajudar, e ajudar com o único necessário, que cura da única enfermidade verdadeiramente mortal. Ele não espera que alguém venha a ele,  vem por sua própria iniciativa sem ser chamado - já que é ele que chama e que lhe tem oferecido ajuda - e que ajuda! Certamente aquele sábio ancião da antiguidade tinha razão que lhe sobrava - Como a maioria, ao fazer o contrário, possui sem razão, quando não se elogiava a si mesmo ou ao seu ensino quando em outro sentido demonstrava com nobre arrogância a incompatibilidade desses valores. Entretanto não estavam tão amorosamente preocupados em se dirigir a alguém, a estar ao lado dele, e lhe seguramente - não sei como dizê-lo agora, se: - e apesar de... , ou porque não estava plenamente certo do que sua ajuda poderia significar; posto que quanto mais certo este único que sua ajuda é única, maior motivo tem, falando humanamente, para elogiá-la e quanto menos certo está maior motivo para fazer algo apesar de tudo, oferecendo sua possível ajuda com máxima presteza. Mas quem se chama a si mesmo de Salvador e sabe que o é, diz preocupado: vem!  


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"Venha todos!" - Que maravilha! Já que alguém, em definitivo não pode ajudar talvez nem sequer somente um,  caso tenha a boca cheia de palavras vazias e convide a todos, não tem, desde sempre - dado o que os homens realmente são -, nada de maravilhoso. Mas quando se está plenamente seguro de que se pode ajudar, e por outra parte, se está disposto a ajudar, e disposto a empregar todo o seu tempo desta maneira e a conta de qualquer sacrifício: neste caso é possível fazer uma exceção:  a de escolher. Por muito disposto a que se está, não se deseja contudo ajudar a qualquer um, não deseja entregar-se desta maneira. Mas aquele, o único que pode ajudar de verdade e em verdade pode ajudar a todos, é portanto o único que de verdade pode convidar a todos. Aquele que não põe absolutamente nenhuma condição, sendo também que disse também estas palavras que desde o princípio do mundo lhe estavam como que destinadas: "venham todos!". Oh sacrifício humano! inserido ali onde é mais belo e nobre, onde te admiramos maximamente, é preciso, todavia uma oblação a mais, a saber: que sacrifiques toda determinação do eu, de sorte que na disposição a socorrer já não se dê a mínima predileção. Que amor! Não fazer desta maneira nenhuma apreciação de si mesmo,  diminuir-se completamente, de tal modo que o que ajuda esteja completamente cego para ver ao que é socorrido, conhecendo com exatidão infinita que tem diante de si alguém que sofre, entretanto, que seja; querer tão incondicionalmente socorrer a todos - Ah! tão distante de todos nisso!

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"Vinde a mim!" - Maravilha! Certamente a humana compaixão faz também solícita algo pelos que estão atribulados e sobrecarregados; se dá de comer aos famintos, se veste aos nús, se entregam doces presentes, se fundam doces instituições, e se a compaixão é mais íntima se visita com gosto aos atribulados e sobrecarregados. Entretanto, convidá-los para que venham a minha casa, isso sei que não, pois então haveria que modificar toda a instalação da casa e o próprio curso da vida. Não se pode conciliar o viver em abundância ou simplesmente na satisfação e na alegria, e estar vivendo e habitando todos os dias e nas diárias circunstâncias com os pobres e desgraçados, com aqueles que estão atribulados e sobrecarregados. Para poder convidá-los se tem que viver do mesmo modo que eles, pobre como os pobressissemos, considerado insignificante como o mais humilde do povo, familiarizado com o cuidado e a tribulação da vida, completamente imerso nas mesmas circunstâncias daqueles a quem convida, que são os atribulados e sobrecarregados. Quando se deseja convidar ao que sofre, não se deve mudar as circunstâncias próprias para igualá-las com aquele que sofre, tampouco aos do que sofrem para comparar com as próprias; pois noutro caso a diferença seria muito maior em virtude do contraste. E se pretende convidar a todos os que sofrem (pois apenas um determina uma exceção, mudando sua situação) ele somente pode mentir de uma maneira, e dizer, mudando a própria situação com a sua, se é que ele já não estava disposto assim desde o princípio, como no caso daquele que disse: "Vinde a mim todos os que estão atribulados e sobrecarregados". Disse ele, e os que viviam com ele vieram e vêem que não se dá em seu modo de vida o mínimo que o contradiga. Sua vida expressa isso com a calada e sincera eloquência dos feitos, caso jamais houvesse pronunciado essas palavras, sua vida expressa: vinde a mim todos os que estão atribulados e sobrecarregados. Ele mantêm sua palavra, ele é sua palavra, ele é o que diz, também neste sentido é ele a Palavra.

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" Todos os que estão atribulados e sobrecarregados". - Que maravilha! A única coisa que lhe preocupa é que pudesse haver um só atribulado ou sobrecarregado que não ouviu este convite; que pudesse vir uma multidão, isso ele não teme. Oh! sempre há lugar num grande coração! e onde haveria um coração tão grande como o seu? Como cada indivíduo queira entender o convite, se o deixa ele a cada indivíduo; ele tem sua consciência livre, ele tem convidado a todos os que estão atribulados e sobrecarregados. 

Entretanto, o que significa estar atribulado e sobrecarregado? Porque não o esclarece um pouco mais a fim de que se possa saber com precisão a quem se dirige? porque é tão breve nas palavras? Oh tú mesquinho, ele é tão breve nas palavras para não ser mesquinho; tú estreito de coração, ele é tão breve nas palavras para não ser estreito de coração!; nisto consiste cabalmente o amor (já que o amor é para todos) e evitar que nem mesmo um somente pudesse angustiar-se fantasiando em sua mente acerca de se estaria ele também entre os convidados. E que pudesse exigir uma determinação mais precisa, não deveria ser um egoísta, fazendo de conta que essa determinação se acomodava especialmente a ele como anel no dedo, sem pensar que quanto mais destas determinações, mais próximas se dizem, deveria dar-se um maior número de indivíduos para quem seria mais indeterminado o feito de estar convidado. Oh homem! Como vê apenas o teu próprio egoísmo, como é tão mau, porque ele é bom! O convite para todos abre os braços daquele que convida, e assim permanece. Ele como um símbolo eterno; tão rápido como aparecem as determinações aproximativas - que talvez provocaram no indivíduo outra espécie de segurança- se transformou o aspecto daquele que convida, se precipita como uma nuvem mutável sobre ele. 


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"Que eu os aliviarei" - Que maravilha! Então aquelas palavras: "Vinde a mim", seguramente devem entender-se da seguinte maneira: permanecei junto a mim, eu sou o descanso, ou permanecer comigo é descanso. Não acontece agora como sempre nos demais casos, que o auxiliador que disse: "vem cá!" tem que prosseguir uma continuação:"já os podeis caminhar" muitos comunicam a cada um onde pode encontrar a ajuda que necessita, onde cresce a erva soporífera que lhe pode curar, ou onde está o lugar tranquilo onde possa descaçar do trabalho, ou onde se fala do ditoso lugar do mundo em que não se estaria sobrecarregado. Não, ele abre os seus braços e convida a todos, todos os que estão cansados e sobrecarregados vieram a ele! Então apertaria a todos contra o peito dizendo-lhes: "permanecei agora comigo, que estar comigo é descanso. O auxiliador é o auxílio. Oh maravilhoso! Ele convida a todos e deseja ajudar a todos, em sua maneira de tratar aos enfermos cabalmente como referida a cada um em particular, como se tivesse em cada enfermo, que ele tem, somente este único enfermo. De outro modo sucede com o médico que tem que multiplica-se entre seus multiplos enfermos que, não obstante, por muitos que fossem, não seriam nunca todos os enfermos. O médico prescreve o tratamento, diz o que se deve fazer, como proceder, e caminha para visitar outro doente, ou lhe deixa ir, caso tenha sido o enfermo a visitá-lo. O médico não pode estar sentado o dia todo à cabeceira do enfermo, ou muito menos pode ter a todos os enfermos em sua própria casa ou sem dificuldades, estar junto a apenas um deles sem descuidar dos outros. Pelo qual, neste caso, o auxiliador e o auxílio não são uma e mesma coisa. O medicamento que prescreve o médico o tem o enfermo todo o dia consigo para empregá-lo constantemente, eventualmente o médico lhe observa, ou é ele quem uma vez entre cem vê o médico. Pois quando o auxiliador é o auxílio, então tem que permanecer certamente o dia inteiro junto ao enfermo, ou o enfermo junto a ele - Oh maravolhoso, que justamente esse auxiliador é ele que convida a todos!

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