A reforma protestante ao defender a livre
interpretação das escrituras inicia uma longa tradição de criticismo. O livre
exame é por natureza um exame crítico, de confronto entre a consciência, o
texto e toda uma tradição que lhe justifica uma interpretação sacramental. A
princípio, o criticismo, ainda refém de uma certa autoridade político-religiosa
das escrituras, se limitará às apologias e aos debates, e nesse ambiente, invariavelmente, a certa ironia e
deboche. Sempre como instrumento para se diminuir a posição do oponente.
Lutero, como um dos fundadores de todo esse processo na modernidade, é um
excelente exemplo. Seu livro Do Cativeiro
Babilônico da Igreja, um texto panfletário, contra a autoridade política e espiritual
dos sete sacramentos oriundos da teologia católica romana reflete bem essa
apologética sarcástica. Mais tarde o próprio catolicismo romano terá o seu
grande ironista na figura de G.K.Chertenton.
Contudo, a ironia, como instrumento apologético e retórico, não nasceu ou se limitou ao ambiente de debates entre católicos e protestantes, mas sua origem pode ser indicada como muito anterior: no socratismo entre os gregos e na própria composição textual do cânon bíblico. É justamente esse elemento irônico que escapou ao criticismo bíblico dos séculos XVII ao XIX, que através do método comparativista, o reduziu às composições mitológicas nos quais seus autores conviveram.
Muito esforço se produziu (e ainda se produz) para se distanciar o canôn bíblico das mitologias. Porém, desde o século XIX, com Soren Kierkegaard, se iniciou uma retomada do sentido irônico de muitos textos do cânon já estabelecido. Com isso, não se procura distanciar a literatura bíblica da influência do ambiente cultural e mitológico onde seus autores viveram, mas sim entender qual é sentido dessa apropriação, originalmente apologética e suas implicações.
É inegável a apropriação que os autores bíblicos fizeram de várias mitologias de seu tempo. O iluminismo se utilizou precisamente deste fato para contestar uma dogmática já estabelecida e institucionalizada, rebaixando-a à nulidade política e religiosa. E essa contestação obteve seu êxito enquanto se cultivou certo otimismo quanto ao projeto de autonomia do sujeito. Projeto esse, que entra em crise com a ascensão de regimes totalitários e da primeira e segunda guerras mundiais, cedendo lugar na contemporaneidade a uma retomada do religiosos e da apologética, excluída contudo de sua dimensão irônica, mas sim exclusivamente lógica (sistemática) e política.
A ironia, na apropriação dos mitos pelos autores bíblicos, expõe a necessidade de uma apologética. Determina, portanto um conflito entre classes, grupos, partidos. Algo já bem conhecido pelo marxismo, que coloca essa luta em primeiro plano como o motor da história. Para Kierkegaard, porém, o irônico corresponde ao primeiro plano na apropriação de tais mitologias, é portanto, uma apropriação negativa. Uma negatividade que ao invés de apontar para uma positividade (seja por meio das categorias do útil ou do poético) suspende qualquer forma de teleologia, seja ela com uma intensão poética, moral ou política. Entra portanto no paradoxo.
Contudo, a ironia, como instrumento apologético e retórico, não nasceu ou se limitou ao ambiente de debates entre católicos e protestantes, mas sua origem pode ser indicada como muito anterior: no socratismo entre os gregos e na própria composição textual do cânon bíblico. É justamente esse elemento irônico que escapou ao criticismo bíblico dos séculos XVII ao XIX, que através do método comparativista, o reduziu às composições mitológicas nos quais seus autores conviveram.
Muito esforço se produziu (e ainda se produz) para se distanciar o canôn bíblico das mitologias. Porém, desde o século XIX, com Soren Kierkegaard, se iniciou uma retomada do sentido irônico de muitos textos do cânon já estabelecido. Com isso, não se procura distanciar a literatura bíblica da influência do ambiente cultural e mitológico onde seus autores viveram, mas sim entender qual é sentido dessa apropriação, originalmente apologética e suas implicações.
É inegável a apropriação que os autores bíblicos fizeram de várias mitologias de seu tempo. O iluminismo se utilizou precisamente deste fato para contestar uma dogmática já estabelecida e institucionalizada, rebaixando-a à nulidade política e religiosa. E essa contestação obteve seu êxito enquanto se cultivou certo otimismo quanto ao projeto de autonomia do sujeito. Projeto esse, que entra em crise com a ascensão de regimes totalitários e da primeira e segunda guerras mundiais, cedendo lugar na contemporaneidade a uma retomada do religiosos e da apologética, excluída contudo de sua dimensão irônica, mas sim exclusivamente lógica (sistemática) e política.
A ironia, na apropriação dos mitos pelos autores bíblicos, expõe a necessidade de uma apologética. Determina, portanto um conflito entre classes, grupos, partidos. Algo já bem conhecido pelo marxismo, que coloca essa luta em primeiro plano como o motor da história. Para Kierkegaard, porém, o irônico corresponde ao primeiro plano na apropriação de tais mitologias, é portanto, uma apropriação negativa. Uma negatividade que ao invés de apontar para uma positividade (seja por meio das categorias do útil ou do poético) suspende qualquer forma de teleologia, seja ela com uma intensão poética, moral ou política. Entra portanto no paradoxo.
Em O
Conceito de Ironia Soren Kierkegaard coloca a suspensão teleológica da
moral como uma categoria do irônico. Em Temor
e Tremor ele faz da mesma suspensão uma categoria do religioso bíblico. Não
seria portanto, a ironia, a verdadeira condição para o
religioso bíblico?
Para tanto,
nosso projeto pretende assumir alguns objetivos bem específicos:
1-
Exposição
do conceito Kierkegaardiano de ironia socrática, se valendo especificadamente
do seu Conceito de Ironia.
2-
A relação
dessa ironia com o problema da suspensão teleológica da moral, partindo da
apropriação do mito de Ifigênia por parte de Gn.22. 1-18, algo bem conhecido
por Kierkegaard, que frequentemente ao longo de Temor e Temor relaciona e compara ambos os textos.
3-
Especificar
as diferenças entre socratismo e o religioso bíblico no plano irônico, a partir
do livro Migalhas Filosóficas.
Deve-se reconhecer outros autores que defendem
uma apropriação irônica do mítico para a formação de toda a religiosidade
bíblica, dentre os quais René Girard e Eckart Otto. Contudo, a diferença de
Kierkegaard consiste na defesa de uma apropriação negativa. Algo a ser avaliado
em trabalhos posteriores.
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